quinta-feira, 1 de agosto de 2013

This is too much to not care...

...but one day, will be different.

Velho.

No dia em que este velho já não for o mesmo, tem paciência e compreende.
Quando deixar cair comida sobre a minha camisa e me esquecer de como atar os meus sapatos, tem paciência comigo e lembra-te das horas que passei a ensinar-te a fazer as mesmas coisas.
Se quando conversares comigo, eu repetir as mesmas histórias, que sabes de cor como terminam, não me interrompas e escuta-me. Quando eras pequeno, para que dormisses, tive que te contar milhares de vezes a mesma história até que fechasses os olhinhos.
Quando estivermos reunidos e sem querer fizer minhas necessidades, não fiques com vergonha. Compreende que não tenho culpa disso, pois já não as posso controlar. Pensa quantas vezes, pacientemente, troquei as tuas roupas para que estivesses sempre limpinho e cheiroso.
Não me reproves se eu não quiser tomar banho, sê paciente comigo. Lembra-te dos momentos que te persegui e os mil pretextos que inventava pra te convencer a tomar banho.
Quando me vires inútil e ignorante perante novas tecnologias que já não poderei entender, suplico-te que me dês todo o tempo que seja necessário, e que não me magoes com um sorriso sarcástico.
Lembra-te que fui eu quem te ensinou tantas coisas: comer, vestir e como enfrentar a vida tão bem como hoje o fazes. Isso é resultado do meu esforço da minha perseverança.
Se em algum momento, quando conversarmos, eu me esquecer do que estávamos a falar, tem paciência e ajuda-me a lembrar. Talvez a única coisa importante pra mim naquele momento seja o facto de te ver perto de mim a dar-me atenção, e não o que falávamos.
Se alguma vez eu não quiser comer, que saibas insistir com carinho, assim como fiz contigo. Espero que também compreendas que, com o tempo, não terei dentes fortes nem agilidade para engolir.
E quando as minhas pernas falharem, por estarem tão cansadas, e eu já não me conseguir equilibrar, com ternura, dá-me a tua mão para me apoiar, como eu o fiz quando começaste a caminhar, com as tuas perninhas tão frágeis.
E se algum dia me ouvires dizer que não quero viver mais, não te aborreças comigo. Um dia entenderás que isto não tem a ver com teu carinho ou com o quanto te amo. Compreende que é difícil ver a vida a abandonar aos poucos o meu corpo, e que é duro admitir que já não tenho vigor para correr ao teu lado ou para te agarrar nos meus braços, como antes.
Sempre quis o melhor para ti e sempre me esforcei para que teu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais florido. E, até quando me for, construirei para ti outra rota noutro tempo, mas estarei sempre contigo, zelando por ti.
Não te sintas triste ou impotente por me ver assim. Não me olhes com pena. Dá-me apenas o teu coração, compreende-me e apoia-me como o fiz quando começaste a viver. Isso dar-me-á força e coragem.
Da mesma maneira que te acompanhei no início da tua jornada, peço-te que me acompanhes para terminar a minha. Trata-me com amor e paciência, e eu devolver-te-ei sorrisos e gratidão, com o imenso amor que sempre tive por ti.

Atenciosamente, O teu velho.