domingo, 12 de dezembro de 2010

'A solitária viagem'

Não tinha um destino. Sabia que a última estação era na Guarda mas, até lá, poderia certamente deixar-me ficar noutro lugar qualquer. Não havia sitio nenhum que me prendesse, não havia ninguém que me fizesse ficar em algum lugar. Era um homem livre, e isso, de certa forma, também me amedrontava.
O barulho do comboio era ensurdecedor e fazia-me ficar, ainda mais, preso aos meus pensamentos. Um homem da minha idade não devia estar sozinho neste mundo infernal. E, também, não devia acabar os seus dias desta maneira.
Entre paisagens deliciosas com espaços verdes únicos, inundados de um sol radiante, de um céu azul que eu nunca vira, acabava por me desvanecer dos pensamentos que, queria eu acreditar, eram absurdos. Podia ser que uma vida nova, um lugar novo, pessoas diferentes me dessem aquilo que eu nunca tinha encontrado, até então, com tantos anos de existência.
À minha volta, apercebia-me do quanto os outros eram felizes. Mesmo ao meu lado, seguia viagem um casal de velhotes ternos que, provavelmente iriam até à sua terra natal ao reencontro de velhas tradições. À minha frente, três jovens contavam peripécias antigas e programavam, com um volume de voz decerto exagerado, aventuras futuras. No banco de trás, conseguia ouvir uma criança a rir às gargalhadas, enquanto a, provavelmente, mãe lhe contava uma história infantil. Não os conhecia, é verdade, mas havia algo que me prendia a eles. Talvez inveja. Talvez.
Calmamente, afinal tinha o tempo todo, retirei da minha simples mochila um livro. Ainda não o tinha começado a ler mas, achei que seria uma boa altura para o fazer. No entanto, passados breves minutos voltei a distrair-me, ora com paisagens deslumbrantes, ora com indivíduos estáticos que, de uma forma ou de outra, captavam a minha atenção.

[excerto de um texto lento realizado para Técnicas de Expressão Escrita, que os meus caloirinhos me "obrigaram" a (re) ler hoje.]

2 comentários:

Anónimo disse...

Aposto que é a continuação de um texto que a berta nos mandou fazer :')

Sara Cabral disse...

Foi, poiiis.