sábado, 2 de outubro de 2010

Crónica- "Prometo pela minha honra"

Promessas, promessas, promessas. Prometemos aqui, prometemos ali. Prometemos isto e aquilo. Prometemos por tudo e por nada. Prometemos para agora e prometemos para o futuro. Juramos. Juramos isto e juramos aquilo. Juramos que sim e juramos que não. Juramos ser para sempre e juramos para nunca mais. Prometem os novos e juram os velhos. É tão típico do quotidiano e tão banal em toda a sociedade.
Prometemos sem sabermos o que estamos a prometer. Juramos tendo consciência que não podemos cumprir. No fundo, deitamos cá para fora meia dúzia de palavras que tranquilizam os que nos estão perto e que nos comprometem com alguém ou com alguma coisa. Prometemos não voltar a fazer. Juramos não esquecer. Prometemos voltar. Juramos “amar e respeitar na saúde e na doença até que a morte nos separe”. Prometemos “pela nossa honra”. Juramos amizades eternas e amores para sempre. Prometemos tanto, em tão pouco tempo e de uma forma tão inconsciente.
E será isso correcto? Porque, afinal, quantas promessas cumprimos? Quantas deixamos para trás? Quantas nem tentamos realizar? E quantas tentamos e desistimos, acabando por não conseguir cumpri-la? Quantas não se desvanecem em segundos, logo após de serem ditas?
Prometemos quase como quem troca de camisa e, de certa forma, uma promessa é hoje em dia tão banal que já não tem o devido valor. Prometemos, sempre, por uma questão de segurança. Prometemos que não voltamos a fazer, procurando a confiança daquele que magoámos. Juramos não esquecer alguém, na esperança que esse alguém também não nos esqueça. Prometemos voltar, seguros que iremos regressar àquele lugar. Juramos “até que a morte nos separe” no cerimonial do casamento, como forma de encontrar segurança e estabilidade ao lado de alguém para o resto da vida. Prometemos pela nossa honra porque, seguramente, apenas a honra terá a força suficiente para nos empurrar para o caminho da promessa.
E não seria bom termos a certeza de que todas as promessas serão cumpridas? Ou melhor, não seria bom que todos os que prometem fizessem os possíveis e os impossíveis para cumprir essas promessas? Não seria bom que houvesse uma maior consciência sobre o que significa prometer algo ou alguma coisa ou prometer-se a alguém?
Certamente a confiança não se destruía tão facilmente, certamente a segurança permanecia durante mais tempo, certamente não havia necessidade de tantos juramentos infundidos e incontrolados e certamente que promessas não ficariam limitadas a simples promessas.
É tempo de (re-) pensar as promessas. E (re-) pensá-las implica conhece-las, imaginá-las, cumpri-las ou ter coragem para admitir que, afinal, a honra não foi suficiente. É também altura para nos consciencializarmos do que já prometemos, do que gostávamos de prometer, do que já cumprimos e do que ainda nos falta realizar. É tempo de percebermos o que significa verdadeiramente prometer. Porque prometer mundos e fundos é comprometer algo, é obrigar a qualquer coisa, é oferecer esperanças a alguém e é dar sinais de muita coisa futura. Porque afinal, promessas não são só promessas, não envolvem só um individuo e, por isso, não basta simplesmente só prometer, prometer, prometer.

[e é por me continuarem a fazer "apenas" promessas que hoje me lembrei disto (não pelas melhores razões, de facto!)]

4 comentários:

Sara Cabral disse...

No âmbito da cadeira de Jornalismo Cultural. Que deu lugar a um bom 17.

000 disse...

"E é por continuarem a fazer "apenas" promessas" que não as faço, nem tão pouco gosto delas. Caso existam, faço por cumpri-las, porque "prometer" é mais do que "comprometer"...

Sara Cabral disse...

E se todos fossem assim, Raquel, certamente este mundo seria muito melhor!

000 disse...

Olha que já acreditei mais nisso. Viveres o "teu mundo" e as "tuas regras" tem desvantagens. Mas acho que nem mesmo assim, eu o deixo de fazer :)